Portugal é um país encantador, conhecido não apenas pelas belas paisagens e pela gastronomia de dar água na boca, mas também pelos costumes peculiares de seu povo.

Para quem chega de fora, algumas atitudes do dia a dia podem parecer curiosas, inesperadas e até mesmo surpreendentes. Confira 10 hábitos típicos dos portugueses que, com certeza, vão despertar a sua atenção:

Portugal encanta por suas paisagens, pela segurança e pela mesa farta — mas é no dia a dia, nos gestos e palavras, que o país mais conquista. Abaixo, aprofundo dez hábitos bem portugueses, com contexto, exemplos práticos e dicas de etiqueta para você viver tudo como um local.


1. O café é (quase sempre) um expresso


Em Portugal, pedir simplesmente "um café" significa expresso curto e forte. E há um vocabulário inteiro: Bica, chamado em Lisboa e cimbalino no Porto o significado para um expresso curtinho.

Você pode também pedir um Garoto que é simplesmente um expresso com um pouco de leite.

Já o Meia de leite, metade café, metade leite, servida em chávena (xícara) grande

E por fim o Abatanado, expresso mais longo ou semelhante ao café "americano".

Se quer vivenciar esta experiência, entre numa pastelaria, peça "um café e um pastel de nata", pague no balcão e beba ali mesmo. Rápido, barato e delicioso.

O português gosta de café quente e curto. Se quiser mais suave, peça um abatanado. Para levar, diga "para fora".


2. O poder do "pois", pode quebrar barreiras, acredite


Poucas palavrinhas são tão versáteis quanto pois. Dependendo do tom, transmite concordância, pausa para pensar, ironia ou surpresa.

No meio de frases simples do dia a dia, use esta expressão que vai dar muito certo.

Na Concordância - Chega às 9h? — Pois., ou até mesmo para expressar surpresa - "Pois! Não sabia!", você irá notar que esta expressão pode abrir portas.

Observe o contexto e o tom de voz. Em Portugal, subtexto é tudo — muitas vezes o pois diz mais do que uma frase inteira

Mas atenção! Use o pois com naturalidade, mas evite quando a conversa exigir respostas claras (reuniões, atendimentos).


3. Pão à mesa e o couvert não é brinde


Pão fresco acompanha quase tudo: sopas, queijos, petiscos. Em restaurantes, é comum chegar pão, azeitonas, manteiga, patês logo de início. Em geral, isso se chama couvert e só é cobrado se você consumir.

Se não quiser, diga com simpatia "Obrigada(o), pode retirar o couvert por favor".

Nada de constrangimento — é normal recusar. E peça azeite: o português tem orgulho do seu azeite.


4. Filas com senha e muita ordem


Em correios, farmácias, talhos (que são os açougues por aqui), Lojas do Cidadão e até algumas pastelarias movimentadas, você "tira a senha" numa maquininha e aguarda o número no painel. Zero empurra-empurra.

Ao entrar nestes tipos de estabelecimentos, procure o dispensador de senhas. Muitas vezes há categorias diferentes (pagamentos, informações, levantamentos).

Perdeu a chamada? Sem drama, peça uma nova senha. E não tente "furar" com "é só uma perguntinha", não pega bem e provavelmente vai arrumar confusão.


5. Bacalhau em centenas de versões


O famoso bacalhau salgado e seco é um símbolo nacional. Chegou com as navegações e virou tradição; está em almoços de família, Páscoa e Natal (a Consoada).

Clássicos:


  • Bacalhau à Brás (lasquinhas com batata palha e ovos).
  • Bacalhau com natas (cremoso, vai ao forno).
  • Gomes de Sá (batata, cebola, azeitona; simples e delicioso).
  • Lagareiro (posta alta, muito azeite e alho).

Prove um prato de forno ao domingo ou uma tasca com à Brás bem feito. Se cozinhar em casa, aprenda a demolhar o bacalhau (tirar o sal) com antecedência.

Pergunte pela posta alta (mais suculenta) se gosta do peixe em lascas grossas. E aceite o azeite generoso sem medo: é assim mesmo.


6. Cumprimentos: dois beijos (às vezes), aperto de mão (muitas vezes)


Em contexto social, é comum dois beijos (um em cada bochecha) entre mulheres e entre homem e mulher. Entre homens, prevalece o aperto de mão. Em ambientes formais, muitas pessoas ficam só no "Bom dia", "Boa tarde" e um sorriso.

Evite abraços "apertados" com desconhecidos. O português preza por discrição nos primeiros contactos.


7. Horários das refeições contam e fique atento, a cozinha fecha!


Portugal é pontual à mesa. Muitos restaurantes servem almoço entre 12h e 15h e jantar a partir das 19h. Fora de grandes centros, é comum a cozinha fechar entre serviços. Chegar às 15h30 pode significar ouvir um educado "A cozinha já encerrou".

Para almoçar tarde, procure locais com serviço contínuo (centros comerciais, zonas turísticas, cafés com pratos do dia). E aproveite o "menu do dia" (entrada + prato + bebida + café) — ótimo custo-benefício.

Se for a uma tasca tradicional, reserve ou chegue no início do serviço. E avise se vai dividir prato; alguns lugares têm taxa para partilha.


8. Fado: silêncio, emoção e guitarra portuguesa


Mais que música, o fado é expressão cultural — voz, guitarra portuguesa (de 12 cordas) e viola (violão) em canções de saudade e vivências lisboetas. Em casas de fado, as luzes baixam, faz-se silêncio absoluto durante a atuação e aplaude-se no final de cada tema.

Escolha uma casa tradicional em Alfama, Mouraria ou Bairro Alto (ou no Porto/Coimbra, cada região com seu estilo). Peça uma sopa e um prato típico e deixe a noite correr entre atuações.

Não fale nem fotografe com flash durante o fado. O momento é de respeito e escuta.


9. Futebol: paixão que organiza conversas e fins de semana


Benfica, Porto e Sporting são mais que clubes: são identidade familiar, tema de café e assunto de cabeleireiro. Jogos grandes movem cidades, há derbies (Benfica x Sporting) e clássicos (Benfica x Porto / Porto x Sporting) que dividem bares e mesas.

Veja um jogo num café de bairro com telão ou faça a experiência completa no estádio. Prove uma bifana (sanduíche de porco) antes do jogo.

Futebol rende opiniões fortes. Se não quiser polêmica, vá de humor: "Hoje torço para um bom jogo"


10. "Bom apetite" e "bom proveito"


Portugueses valorizam boas maneiras à mesa. Antes de começar, deseja-se "Bom apetite". Ao levantar-se ou ao passar por alguém que está a comer, usa-se "Bom proveito". É um gesto simples que abre portas.

Ao sentar, espere todos serem servidos e depois diga "Bom apetite". Se alguém estiver a comer quando você chega, cumprimente com "Bom proveito" e sente-se.

Evite falar muito alto no restaurante; conversa baixa e tempo para apreciar o prato são parte do ritual.


Os hábitos portugueses revelam um país acolhedor, discreto e prático, onde o prazer está numa bica bem tirada, numa conversa com subtexto, num almoço sem pressa e numa canção que pede silêncio.

Ao respeitar horários, observar códigos de cortesia e experimentar os rituais — do bacalhau ao fado — você não só evita perrengues: ganha pertença.